Há uma sombra no tempo

Estou imergido em um estado de desconecção e desinteresse total por tudo o quanto está, foi ou irá acontecer no mundo aqui fora, salvo pouquíssimas excessões. Como estou nesse estado de semi-autismo ou lerdeza como um ou outro ser prefere me descrever, não tenho nada de útil a dizer, não tenho nações a criticar, não tenho pessoas para mandar se explodirem, não tenho mazelas sociais para expor e, tampouco vou criticar os indesejados desenhos japoneses. Vou continuar postando inutilidades...
Estava eu a reler um trecho de um texto escrito a muito tempo e ainda em andamento, o bom senso me diz que não vou acabar nunca, fato que não me importa em nada uma vez que não me é de interesse expor a obra em sua totalidade mítica. Por mais tola que tenha sido essa pequena passagem ela mexeu comigo de alguma forma, uma forma de abalo que só pode ser comparada com o pulso colossal que se abatera sobre mim no momento trágico da escrita, nesse momento lendário no qual as palavras rasgam o véu que há entre aquilo que seria e aquilo que se torna... Não creio que seja algo que mereça atenção, estou em um momento onde não mais estou meio às avessas. Estou completamente ás avessas! O que quer que venha a ter abalado minha figura desconcentrada não há de ser importante...


"A luz sobre a página está se tornando cada vez mais fraca e quando a luz cede a treva avança. Há uma sombra mais densa que as demais que correm em fluidez inventada sob o manto da noite e que penetram o quarto pelos poros da penumbra. Há uma sombra que se destaca na treva pura e que dança suavemente sem o som dos sinos que sua força sinuosa convoca no assombro de sua existência. Há uma sombra no tempo. Há uma sombra na memória. Há uma sombra viajando com o vento... Essa nódoa na realidade não pode ser vista, pode ser sentida... Pode ser sentida como a saudade que não se explica, de pessoas que nunca conhecemos, de lugares que nunca vimos, de eras infinitas as quais não pertencemos... Ela pode ser sentida como aquilo que torce a realidade e torna em sentimento a palavra escrita, pode ser sentida como o amor infinito que sentimos por um infinito lugar-nenhum que preenche nosso corpo e o faz ainda mais vazio. Há uma sombra no tempo e não há palavra alguma que não se contradiga. Mó que faz do pó as palavras que não se contêm em si mesmas que se carregam no vento que se fez na viagem da sombra. Mó, que me torceria os ossos até o pó algum que se faria. Há uma sombra no vento e meu corpo resiste aos estalos à sua presença, resiste à mó que o tritura com o peso da loucura... A sombra traz o silêncio de todas canções que nunca foram cantadas. A sombra do tempo é uma memória impossível, memória que não tem forma e que assume toda forma de toda saudade que não pode ser explicada... Não é uma sombra, é um espaço vazio! Espaço vazio que se comunica com o vazio dos seres, que possuem em si mesmos sua própria sombra nas terras selvagens além do espelho, nas regiões indômitas que guardam o ser primordial. Há um vazio no tempo. Á um vazio nos seres. Há um vazio nas palavras, nos gestos, em tudo que fazemos e que sentimos... O vazio torna-se a linguagem universal, capaz de entrar em sintonia com tudo, com todos que já o contemplaram, que já vislumbraram sua forma. E continuo sentindo essa saudade infinita e inexplicável que surge como sussurro que está sempre presente e que toma forma cada vez que a sombra do mundo se aproxima. Há um lado escuro na lua, um lado frio... O escuro traz ausências e, inevitavelmente, presenças por conseqüência e são essas ausências que sinto que tornam presentes sentimentos de um suposto passado-futuro em um espaço no pseudo-tempo. É que os valores são curvos e se invertem, nunca me senti tão só e, não obstante, nunca houvera antes tantas pessoas ao meu lado... A presença delas só é capaz de invocar o sentimento de ausência eterna enquanto a ausência inexorável que sinto traz à tona a incômoda presença impossível de realidades impossíveis que desconheço"...


Se alguém está ainda acordado depois de ler essa chatice, gostaria de rir da cara de sono desses heróis que lutaram bravamente contra o tédio, eu avisei, mas ninguém me escuta. Não há ali nada que mereça ser lido.

Encontrei-me com Yeshua esses dois dias anteriores. Gostaria de deixar aqui um abraço para esse grande amigo de quem nutria saudades imensas.

Post Scriptum: Aos interessados, há uma possibilidade de eu não ir viajar pela manhã dessa sexta... Enfim, um imprevisto positivo que talvez livre-me da terra do fim, pelo menos por algum tempo.
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