Do cinema, da falta de criatividade e do que fazer

Ah a inventividade humana... Funciona assim, alguns possuem alguma cousa, outros, nem a mísera parte, mal tem o suficiente para se manterem vivos sem fazer sucesso com mais um desses roteiros baseado em um pastiche da vida em alta sociedade. Eu me aventurei em uma terra selvagem, distintamente selvagem mesmo na selva. Eu fui ao shopping e estando lá, ao cinema. É certo que a compania foi agradável - não fosse por isso eu não teria sobrevivido naquela terra inóspita - mas isso não muda o fato de que, somado a todas as catástrofes, fui ver mais um desses filmes em que basta se ver o cartaz para saber o final que, a propósito, só tem a única função de mandar os espectadores para a casa felizes e contentes (e a minha pessoa ao banheiro mais próximo para vomitar). O que esses roteiristas possuem na cabeça? Deve ser um cérebro mesmo que é a parte do corpo humano que tem se provado menos funcional ao longo da evolução da espécie. Eles devem se achar muito criativos, mas alguém se esqueceu de dizer a eles que fazer paródias da vida americana é tão difícil quanto fazer algum desses romances caricaturados, cheio de personagens caricaturadas que se vendem a preços populares nessas bancas de veículo de cultura descartável. Já estava a caminho de imaginar como alguém poderia ser tão desprovido de inteligência ao ponto de escrever um roteiro daqueles, supostamente feito para satirizar a vida moderna e toda essa conversa fiada de crítico de jornal barato. Nesse momento uma luz divina cruzou a sala obscura do cinema e pensei "é a luz da inspiração, finalmente terei a resposta para minhas dúvidas". Era um celular, um não, uma dúzia deles e um grupo de patetas, desses que só vão no cinema para disparar canetas laser (um clichê no mundo das cousas idiotas a se fazer em um cinema) e testar todos os toques (bregas) dos seus celulares, além, é claro, de compararem a cor da luz de suas máquinas infernais... O roteirista não é tão idiota assim. Cheguei a conclusão que as pessoas (não quero dizer que são todas, espero que tenha alguém que se salve nesse mundo) também são caricaturas, não, não chegam a tanto, são arquétipos rasos (aqueles lá eram imbecis mesmo, não tem eufemismo que os salvem). A essa altura, se é que tem alguém prestando atenção, alguém talvez já tenha percebido que o filme era para ser uma comédia; melhor rir, vai que os animais dos celulares (eles estavam mesmo produzindo barulhos dos mais estranhos) não eram vacinados e se ofendessem ao ponto de resolverem me morder. Rir foi uma solução para não vomitar também, embora tê-lo feito na cabeça do casal da frente parecesse tentador. Acho desnecessário dizer que as perturbações se prolongaram por toda extensão do filme e não me restou outra saída a não ser tentar me aprofundar em alguma discussão filosófica improvisada comigo mesmo. Não foi difícil concluir o óbvio, as pessoas (é, continuam não sendo todas, vai que alguém em algum lugar não é...) não possuem sequer a decência de ter um senso de humor inteligente. Basicamente só se ri por quatro cousas ultimamente: quebra de espectativa, hipérboles, absurdos e quebra do paralelismo semântico (que não deixa de ser um absurdo aplicado no lugar certo). O pior é que as pessoas riem e provavelmente não sabem disso, eu mesmo nunca vi ninguém comentar "viu como a quebra de paralelismo semântico é um recurso explorado exaustivamente naquele filme". Há patetas, que não sabem por que são patetas; há os que riem desses patetas sem saber por que riem; há quem vá contemplar tudo isso sem entender nem desejar tomar parte (para mim os mais otários) e há quem tenha mais o que fazer... Eu fui até lá, mas tenho meu álibi, estava em compania muito agradável, mas quem está aqui, lendo isso, não tem como buscar qualquer argumento escuso. Quem está aqui é por que definitivamente não tem o que fazer.


Vou aprender braile, assim, posso levar algo para ler da próxima vez que for ver comédia de baixíssima qualidade.

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