Um Réquiem de Pó

...Então o vulto da Guardiã paira sobre mim outra vez...
Foram longos os tempos em que estive sem o seu amparo e agora com seu retorno percebo o que está para acontecer. Esta estranha propriedade, que não lhe conferi no momento de sua criação talvez seja dentre tantas a que mais me intriga, sua capacidade de rasgar o véu dos tempos, de deflorar as eras, estilhaçar a imagem vítrea de tudo que foi, é e será e de seus fragmentos tornar o puro pó que assombra as estantes mofadas daquela velha biblioteca nas charnecas tempestuosas aquém das montanhas. Você pode ver, minha guardiã, eu posso ver e, entretanto, nenhum de nós pode conceder clareza um ao outro... Não somos seres fundamentados na estupidez de tudo o quanto é reto e em nossos trajetos tortos aguardaremos reticentes que o rugir do trovão não venha sozinho, que traga consigo um raio qualquer e, junto a ele, um lampejo de luz fugaz e certeiro que ilumine todo o pó em que se fez o tecido da continuidade...
Sim, nós podemos ver, mas o conhecimento não é tanto quanto dizem que ele é. O conhecimento em si é muito pouco. Há um longo abismo que separa o ato da sapiência, um abismo não, brenhas espinhosas de veneno viscoso que traz o asco. Há muitos que sabem, só não tenho ciência de quem age da maneira como pensa...

De que adianta todo conhecimento do mundo, minha Guardiã, se ele escorre junto as areias da ampulheta? De que adiantaria se ele não tem o poder de poupar-nos de muita cousa...

O conhecimento é um fundamento óbvio

O poder de reinventá-lo sim, pode nos trazer alguma distração e talvez nos render alguns momentos de risos em uma noite seca como essa... E não se preocupe, o momento de recebermos algum sinal, qualquer que seja, ainda não chegou... Sejamos pacientes, devemos agir como se não soubessemos, não importa o quanto saibamos.
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